20.12.08

Dançarina


Luz.
Iluminava todo salão mas o foco ainda ela era. Eu conseguia sentir meus pés no ar quando via ela girar. De um lado pro outro ela passava, em um pas-de-deux ou sapateado, sozinha ou do meu lado, não consiguia tirar os olhos de seu corpo no salão. Faltava espaço entre todos aqueles para o seu lindo solo.
Pequena. Dançaria na palma de minha mão se na dela eu não estivesse. Meus olhos em seu corpo em ritmo e devoção e naqueles olhos. Aqueles olhos não piscavam até o fim de cada canção e seus lábios se pressionavam um contra o outro a noite inteira. Eu já sabia sua coreografia de cor. De outros bailes de outros salões. Já tinha a visto cair, já tinha a visto brilhar, já tinha a visto ir para casa sozinha em seu vestido suado ou nos braços de um novo namorado.
Mas eu sempre continuei em meu canto. Desconhecido. Até o dia em que ela não veio. Depois outro, depois outro. Vivi entre dias em que ela não vinha e as luzes do salão não me iluminavam mais.
Outro dia a encontrei na rua. Seus olhos não brilavam mais. Em seus braços não havia mais um parceiro de dança e sim uma criança. Suas sapatilhas cor de rosa foram substituidas por sapatos gastos. Ela passou sem virar o rosto. Ela não me conhecia e daquele dia em diante nunca mais fui a nenhum baile. 
Eles todos perderam a graça.

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