25.5.11

O monstro marinho

-Você é bem ruim nisso.
O garoto deveria ter entre 8 e 10 anos, e olhava de cima para baixo para Cristiano. O homem levantou, mas não adiantou muito. Tinha apenas alguns poucos centímetros a mais que o garoto. Passou a mão no bigode molhado e olhou ao redor. Apenas os dois estavam naquele canto raso piscina pública.
-Nem todo mundo sabe nadar, sabia?
-Dá pra perceber...

Cristiano arrumou a sunga, que começava afundar dentro suas nádegas. Tinha ido naquele horário porque achava que ninguém o incomodaria enquanto esboçava um treino de nado no canto raso da piscina.
-Eu sofro de um trauma de infância, tá?
-O que é trauma?
-É uma coisa ruim que te acontece que te marca pra vida inteira.
-Tá.
-Então, tá. - Cristiano virou as costas e ameaçou sai da piscina.
-Mas o que foi que te aconteceu?
Cristiano bufou. Olhou ao redor e não viu ninguém. Como diabos aquele garoto estava ali? Que tipo de pai deixar uma criança sozinha numa piscina pública?
-Olha guri, quando eu tinha sua idade, minha família e eu vivíamos num iate e viajamos o mundo em busca de lugares maravilhosos. Nós exploramos todos os mares, visitamos todos os continentes e demos até a volta ao mundo. Quando um dia, enquanto navegávamos pelos Pacífico, algo se chocou contra o casco do barco. Quando meu pai foi ver o que era descobriu que era um monstro marinho. Uma mistura entre caranguejo e lula, com dez tentáculos com pinças nas pontas e 4 pares de olhos, e uma boca que cuspia ácido. O monstro agarrou o casco do iate, mas meu pai pegou um arpão e saltou contra o monstro em pleno mar. Ao mesmo tempo, minha mãe me botava num bote salva-vidas e se despedia de mim. A última vez que eu vi meus pais eu estava sozinho, no meio do mar vendo o iate sendo afundado pelo monstro enquanto meu pai e minha lutavam contra ele. Desde então, eu fiquei com trauma de água e não consigo nadar.
-Uau – O garoto arregalara os olhos e passara boa parte da descrição de boca aberta – Um monstro do mar. Que sinistro! Isso aconteceu mesmo?
O homem suspirou enquanto revirava os olhos.
-Lógico que não. Quando eu era guri uma onda muito forte me pegou na beira da praia lá no Guarujá.
-Você é ridículo.
Cristiano viu o garoto pular na água e nada para o fundo com uma velocidade impressionante.
-É, eu sou bem ruim nisso mesmo. - E voltou a deitar na parte rasa da piscina e ensaiar algumas braçadas.

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