7.12.08

Biscoito


Comia seu biscoito da sorte. Estranhamente, essa era sua parte favorita de comida chinesa. Na verdade, ele nem gostava tanto da culinária oriental, ia aquele restaurante só mesmo pelos biscoitos e achara um absurdo quando seus amigos lhe disseram que era possível compra-los sem ter que pagar por uma refeição inteira. Ora, toda graça do biscoito da sorte está em come-lo após todo aquele macarrão e frango temperado. 
Achava muita graça nos recados. Muitos beiravam a auto-ajuda ("Para fazermos algo grande precisamos agir tanto quanto sonhamos") e até mesmo a ironia ("Não faça certo, não faça errado, faça do seu jeito"). Ele sempre imaginava como seria a pessoa responsável por escrever esses recados. Uma senhora de meia idade viciada em literatura barata ou algum jornalista fracassado munido de uma vasta coleção de sites com frases de efeito.
Efeito era a palvra certa. Depois de comer desdobrar aquele pequeno papel e ler algo que tenha algum impacto, embora momentaneo, na sua vida. Afinal, ele sempre se predispunha a seguir o conselho dado por seu biscoito, mas acabava se esquecendo após sair do estacionamento do restaurante. Mas nenhum recado até hoje tinha lhe causado o efeito que esse lhe causaria.
"O garçom da mesa ao lado tem uma arma"
Ao ler isso virou-se para a mesa do lado a tempo de ver o homem vestido de traje chinês sacar sua pistola e disparar dois tiros contra seu peito. Duas semanas depois de sair do hospital ele prometeu: Nunca mais comeria biscoitos da sorte. Descobrira um hobby mais seguro e divertido. Ler o horóscopo.

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